Tá faltando pai

AIR SOZINHO COM SEUS FILHOS PODE ENSINAR MUITA COISA. TEM QUE SER SÓ VOCÊ E ELE, E TEM QUE DEIXAR ROLAR A CONVERSA, AS EXPERIÊNCIAS E AS EMOÇÕES

por DR. SAUL CYPEL, pai de Marcela, Irina, Eleonora e Bruna

«DOUTOR, EU NÃO SEI FAZER ISSO» DISSE-ME O PAI DE um menino de nove anos quando lhe sugeri que fizesse um programa com seu filho num sábado pela manhã. Respondi lhe: «Pois se não sabe, você pode aprender».

Havia lhe proposto sair com o filho para ver uma exposição de animais, comprar uma revista na banca e ler junto depois, ver um jogo de futebol no campo perto de casa, ou qualquer outra atividade que sua criatividade permitisse. Um empresário bem sucedido, formado numa das melhores escolas de administração do país, capaz de gerenciar a complexidade de sua indústria com algumas centenas de funcionários e colocando-se tão incapaz diante desta simples proposta.

Esta situação tem se repetido com alguma freqüência, e muitas vezes o pai pergunta qual a importância de sair só com seu filho; «saímos todos juntos, com a mãe e os irmãos», acrescenta prontamente. Nunca lhe foi esclarecido sobre o valor e a importância da sua relação com o filho e da necessidade que esta ocorra dentro de certos padrões para bemmodelar seu desenvolvimento emocional, compor o referencial de atitudes da criança, oferecer um modelo de identificação.

Estes programas individualizados são importantes e favorecem múltiplas finalidades. Explicitam para aquele filho que durante um certo tempo ele estará tendo uma exclusividade, vivenciando um momento privado de relcionamento, e poderá ir conhecendo o que seja uma inti-midade com o outro. Ao mesmo tempo, o pai poderá ser conhecido como representante das «leis» e se criarão oportunidades, durante estes programas, para a colocação de regras e disciplina, aquilo que pode ou não ser feito, ter que esperar numa fila, respeitar a vez de outra criança num brinquedo, escolher entre um sorvete ou um chocolate e não poder ter os dois.

Em casa a presença e participação paterna são fundamentais. Embora a mãe também o faça, a atuação do pai é essencial no sentido de incentivar e propor atividades, sejam de trabalho e também de lazer, nas quais prazer, regras e disciplina estarão presentes. A utilização de jogos de mesa como dama, senha e outros, que incluem regras, tempo de espera, perdas, servem para exercitar estas vivências na criança e favorecem o desenvolvimento da capacidade para pensar. Mais uma vez o filho será incentivado para o aprendizado de atividades de organização elementares que serão os alicerces das aquisi-ções mais complexas.

E aí a função paterna estará sendo exercitada, oferecendo momentos interessantes de entretenimento e ao mesmo tempo colocando limites nas relações que se estabelecem, expondo e auxiliando seu filho a conviver com frustrações. Estará tendo a oportunidadede ser pai, de exercer a função paterna, e poderá usufruir de inúmeros e fascinantes momentos de convivência, nem sempre fáceis e prazerosos, mas importantes para seu filho do qual é a «régua e o compasso». E certamente este seu descendente lhe será eternamente grato por tudo isso, mas principalmente também por ter tido a oportunidade de ser filho.

Dr. Saul Cypel é neurologista infantil.

DEJA UNA RESPUESTA

Por favor ingrese su comentario!
Por favor ingrese su nombre aquí